“ Uma visão de coragem direcionada ao mundo da gestão.”
Book Review do livro “Os Líderes comem por Último” por Neusa Martins
Simon Sinek é um otimista. Autor de várias obras “Primeiro pergunte porquê”, “Juntos é melhor” e “O jogo infinito” tem como missão ensinar líderes e organizações formas de se inspirarem a si próprios e aos outros. Ensina membros do Congresso, estrelas de Hollywood e empresas como a Microsoft (Sinek, 2019). https://simonsinek.com/ (Sinek, 2022).
Começamos por este magnifico título, marcante
o suficiente para despertar a curiosidade! Quando os Marines se juntam para
comer, os subalternos são servidos primeiro e os superiores são servidos por
último, mesmo não existindo essa ordem em lado nenhum, espera- se que os
líderes na marinha comam por último porque o verdadeiro preço da liderança é a
vontade de colocar as necessidades dos outros acima das suas. Os verdadeiros líderes
preocupam- se verdadeiramente com aqueles que lideram e consideram um
privilégio essa liderança.
Simon inspira- se nas Forças Armadas americanas
e em particular na Marinha dos Estados Unidos para fundamentar a importância dos
líderes se focarem nas pessoas, na compreensão do trabalho em equipa, na
confiança entre membros, na cultura que os une e no foco das missões. Falamos
de organizações que se encontram em posição que o preço de um fracasso pode ser
desastroso.
O autor não defende nenhuma nova
teoria da liderança, o seu propósito é tornar o mundo um lugar melhor para as
novas gerações através da abertura á visão associada ao entendimento que o
sucesso ou insucesso de uma organização é baseado na excelência da liderança e
não na eficiência da gestão. Simon refere que quando os líderes inspiram
aqueles que são liderados por eles, as pessoas acreditam num futuro melhor,
investem em aprender novos conteúdos, desenvolvem mais as organizações, cuidam
das suas pessoas ao seu redor e do seu bem-estar. Durante este caminho é normal
que surjam novos líderes.
Esta obra propõe 8 partes dividida em
27 capítulos com a sequência de casos práticos onde a analise do impacto dos
temas pode ser verificada pelo leitor. Irei partilhar alguns dos tópicos que
considero mais interessantes e práticos de visualizar.
“A necessidade de nos sentirmos seguros”,
remete-nos para o sentimento de proteção, de pertença e de confiança. O autor
utiliza as Forças Armadas americanas para ilustrar um exemplo de liderança no
qual a prioridade é o bem-estar das pessoas que na sequência de sentirem este
cuidado dão em troca tudo o que têm para promover, proteger o bem-estar umas
das outras e da organização.
No dia 16 de agosto de 2002 um batalhão
de 20 homens tinham em mãos uma missão secreta no sentido de capturar um «alvo
de valor elevado» no Afeganistão, após este acontecimento tiveram de se
movimentar com o alvo através de montanhas e vales comunicando apenas através
de rádio para o único apoio possível o capitão Drowley, mais conhecido como
Johnny Bravo. Era de noite, as condições
meteorológicas não permitiam nenhum contato visual, a única forma possível de
ligação era a empatia de sentir aquilo que os homens no terreno estavam a
sentir e manter a atenção plena a qualquer ruído ou mensagem. O alerta foi
enviado «Tropas em contato» e o capitão estava pronto para reagir, mesmo sem
ser visto no céu, Bravo surgiu quando os seus homens precisavam abrindo fogo ao
inimigo, permitindo que todo o batalhão sobrevivesse a esta missão.
O autor menciona que na hierarquia
linear em que trabalhamos existe a necessidade de sermos reconhecidos, refere
ainda que quando mais reconhecimento recebemos pelo esforço maior é o
sentimento de que somos bem-sucedidos. Johnny Bravo tinha a vontade de ser bem-sucedido,
o desejo de ajudar a organização, o reconhecimento dos seus superiores como
parte integrante da cultura de serviço onde a proteção chegava a todos os
níveis da organização.
E como entender estas sensações? As “Forças
Poderosas” representam as forças químicas que permitem a evolução da nossa
fisiologia, surgiram com o objetivo de nos ajudar a sobreviver e dentro destas
forças encontramos o sentimento de felicidade. Existem quatro substâncias
químicas principais no nosso corpo que contribui para todos os nossos
sentimentos positivos a que genericamente o autor chama de substâncias “felizes”
e que separa em duas categorias.
Substâncias químicas egoístas –
Endorfina e Dopamina trabalham para nos fazer chegar onde precisamos como
indivíduos, cria a perseverança, ajuda-nos a seguir em frente, a encontrar comida,
a inventar ferramentas e a criar soluções.
Substâncias químicas altruístas – Serotonina
e Oxitocina são responsáveis pelos sentimentos de confiança, de lealdade, de
incentivar ao trabalho em equipa, á cooperação e consolidação de vínculos
sociais. A oxitocina ajuda-nos a viver mais! O autor menciona «a mãe
natureza quer que os que dão e cuidam dos outros mantenham os seus genes no
reservatório genético».
Atuando sozinhas ou em conjunto, em grandes ou pequenas quantidades sempre que o sentimento de felicidade está presente alguma destas substâncias está a correr nas nossas veias existindo com um propósito prático e real na nossa sobrevivência.
Substâncias Químicas Egoístas Substâncias Químicas
Altruístas |
|||
Endorfina |
Dopamina |
Serotonina |
Oxitocina |
Sobrevivência Camuflar a dor física Opiáceo pessoal Incentivo inteligente que
nos encoraja a continuar Produzimos endorfinas
quando sorrimos
|
Satisfação após terminar algo Sentimento de progresso Ajuda-nos a ultrapassar os desafios
Quanto maior o objetivo maior a
recompensa Concretização Gratificação instantânea
|
Sentimento de orgulho Responsável pela confiança Reforça laços emocionais Quando somos valorizados Desenvolve o sentimento de
responsabilidade pelos outros |
Sentimento de amizade e amor Confiança profunda Empatia Lealdade Gratificação duradoura Abraços, dar as mãos, ver fotos de
quem gostamos, contacto físico liberta oxitocina |
O autor refere durante o seu livro os
impactos práticos destas substâncias e a necessidade de as entendermos em nós e
posteriormente nos outros, principalmente dentro das organizações. «Muitos
dos ambientes em que hoje trabalhamos anulam as nossas inclinações naturais
para confiar e cooperar»
Simon relaciona as “substâncias da
felizes” com o quotidiano e expõe verificar um relacionamento entre aqueles que
menos tem e a sua atitude de partilha e preocupação com o outro no sentido de
maior cooperação e apoio, não apenas porque são boas pessoas, mas sim porque a
sua sobrevivência depende da partilha. Ironicamente quanto mais temos mais
difícil é a partilha e o sentimento de segurança em manter os outros afastados.
O desejo de termos cada vez mais juntamente com a reduzida interação física com
as “pessoas comuns”, cria uma desconexão e cegueira em relação à realidade. No
caso da avaliação de desempenho os processos das empresas estão a ser conduzido
pela dopamina no sentido da recompensa pela realização individual em vez de uma
atitude mais equilibrada com serotonina e oxitocina onde a gratificação deveria
assenta no trabalho em equipa e construção de laços de confiança e lealdade. Como
conseguir na prática tudo isto? Simon vai orientando o leitor com algumas
recomendações!
Mantenha o foco na realidade – una as
pessoas
A internet surge como um aliado de
grande dimensão como ferramenta de disseminação de informação e como forma de
contactar as pessoas mais facilmente. No entanto tal como o dinheiro não compra
o amor a internet não compra relações empáticas e de confiança.
O autor alerta para os impactos do
teletrabalho e das relações online onde claramente não se verifica que
pertencemos a algo, por isso é que uma videoconferência nunca substitui uma
viagem de negócios, é necessário um aperto de mão para unir os humanos.
As interações humanas ao vivo fazem com
que sentimentos de pertença surjam assim como relações de confiança e empatia. E
é assim que inovamos e evoluímos!
Ainda não conseguimos entender ao
certo o impacto das nossas escolhas…teremos de aguardar uma geração para sentir
os efeitos das nossas preferências atuais pelas relações virtuais em lugar das
reais!
Dê-lhes tempo, não apenas dinheiro
O ser humano necessita de se sentir
seguro na sua comunidade e organização, logo atribuímos grande importância ao tempo
que nos dispensam. Podemos concordar que o dinheiro tem um valor relativo por
exemplo 100€ para uma criança é muito, mas para um indivíduo rico não é nada.
Quando alguém esta a falar connosco e não estamos a prestar atenção estamos a
perder uma oportunidade de desenvolver a confiança com essa pessoa, ou de ser
conhecido como um líder que esta interessado. Uma empresa não consegue comprar
a lealdade nem a disposição irracional de comprometimento de um colaborador
através do dinheiro. “Ouvirmos falar do tempo energia que alguém deu a
outros inspira-nos a fazer mais pelos outros”. Aqui esta a nossa amiga oxitocina!
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/24-jan-2020/ocitocina-a-hormona-que-mexe-com-a-confianca-e-as-mas-praticas-ambientais-11714372.html
E como não poderia deixar de ser
Simon entra no tema da importância da Cultura Organizacional, orienta o leitor
para mais uma aventura através da partilha de uma história real sobre a
invenção do Post-it e a aceitação da falha como natural.
Spencer Silver, cientista da empresa
3M esta a tentar desenvolver um adesivo forte, contudo não foi bem-sucedido, o
que criou foi um adesivo fraco. No entanto como a cultura da empresa não
escondia os trabalhos “falhados” foi partilhado com todos os colaboradores na
empresa a invenção involuntária. Alguns anos depois o cientista Art Fry durante
um ensaio de coro da igreja precisava que o seu marcador de pauta se mantivesse
no lugar, recordou- se do fraco adesivo de Silver e assim surgiu o nosso amigo
Post-it!
As pessoas que confiam e partilham os
seus fracassos e sucessos dentro da empresa, demostram representar uma cultura
protegida onde o resultado natural será a inovação.
A minha Reflexão Integrativa
Considerando o contexto atual
económico e tecnológico, o futuro sustentável das organizações passa pela
abertura e recetividade á mudança.
Neste sentido é estruturante contruir
alicerces estabelecidos num círculo de segurança que permita canalizar as
energias para os desafios exteriores, tendo como base basilar a confiança, a
lealdade, a empatia e a responsabilidade.
Uma organização em que a cultura seja
de confiança e o círculo de segurança esteja ativo irá permitir encontrar menos
resistência á mudança organizacional e maior colaboração das equipas. Atendendo
ao facto das organizações se encontrarem em momentos diferentes da sua vida, e
concluído que essa situação é natural e possível de ser caracterizada pela
curva da mudança de Greiner, em qualquer uma das suas fases torna- se
elementar uma visão coerente de longo prazo
Escolhi este livro pela oportunidade
de contato com a narrativa do autor pois apresenta uma forma direta na
abordagem a temas interessantes, atuais e desconstrói conceitos através de
exemplos reais. Este livro vai ficar no grupo dos livros que não são para trocar
pois pode ser consultado a qualquer momento. Diverti me imenso nesta viagem e
fiquei a conhecer melhor as minhas sensações através do conhecimento dos
químicos da felicidade. Recomendo este livro a todas as pessoas curiosas, com
interesse em viajar numa boa narrativa ao lado de um autor autêntico!
Neusa Martins neusamartins27@gmail.com
Caro/a leitor, para citar esta book review,
use esta referência final:
Martins, N.24/11/2022.Uma visão de coragem direcionada ao mundo da gestão. Book Review Orientada por PhD Patrícia Araújo no âmbito da unidade curricular de “Métodos de Intervenção e Desenvolvimento Organizacional”. ISMAT -Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes https://www.ismat.pt/pt/
https://desenvolvimento-organizacional.blogspot.com/2022/11/ neusamartins .html
Referências
Araújo, P.
(09 de 11 de 2022). Aulas Métodos de Intervenção e Desenvolvimento
Organizacional. Portimão, Faro, Algarve.
FNAC. (09 de 11 de 2022). fnac . Obtido de
https://www.fnac.pt/Os-Lideres-Comem-por-Ultimo-Simon-Sinek/a6719145
Gonçalves, S. (09 de 11 de 2022). Diário de
Notícias . Obtido de
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/24-jan-2020/ocitocina-a-hormona-que-mexe-com-a-confianca-e-as-mas-praticas-ambientais-11714372.html
Lusófona. (09 de 11 de 2022). Ensino Lusófona .
Obtido de https://www.ismat.pt/index.php
Sinek, S. (2019). Os líderes comem por último.
Alfragide: Lua de Papel.
Sinek, S. (09 de 11 de 2022). Obtido de The Optimism
Company: https://simonsinek.com/
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